sábado, 20 de setembro de 2008

no sense

Perdendo totalmente o sentido de sua existência encontramos o peixe voando. Sinceramente estava mais para um queda do que para um vôo, mas ali estava ele em meio aquele monte de ar e descendo. Até alguns segundos ele estava no aconchego de seu lar, quando de repente um ser estranho o abocanhou subiu até o limite de seu universo e ingressou em um monte de ar. E subiu, subiu muito. Ele bravamente lutava para se livrar de seu agressor, não entendia o que estava acontecendo. No passado aparentemente ele viu algo parecido; parece que um de seus irmãos, ou primos... Não se lembrava bem. Maldita memória! Mas foi um fato assim que o fez temer os peixes maiores. Mas aquilo era inusitado, sem sentido. Um ser desconhecido o abocanhou e levou além de todos os limites do seu curto conhecimento. Assim, sem sentido, foi o momento que este ser o soltou. Exatamente quando ele tinha perdido a esperança e deixado de lutar. sua mente estava muito confusa, não sabia o que aconteceria se o ser o soltasse, conseguiria nadar?
Mas agora estava solto. Estava nadando no ar, mas para baixo. Uma força inexplicável o arrastava. Se ele soubesse o que era a lei da gravidade ele pensaria que estava sofrendo uma pena gravíssima baseada nesta lei, mas ele não sabia o que era gravidade e então pensou em outra coisa.
Pensou que era muito boa a sensação. Pensou que era o melhor momento de sua vida. Respirava mal, mas era incrivel esta coisa de nadar para baixo. Um imensidão azul se aproximava, os reflexos luminosos eram belos. E então ele chegou.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

mirame a los ojos e veras lo que soy

A partir daquele momento ele faria diferente. A vida seria outra, seria melhor. Incrível acreditar que até aquele ponto crucial de sua vida ele tenha engolido tanta coisa. Mas agora, olhando por outro ângulo, ele enfim enxergou o que estava errado. Muito conivente ele foi até aquele dia. Conveniente para todos a sua volta era a situação, para todos menos para ele. Hoje era o dia da verdade, sus filhos, seus colegas de trabalho e até seu chefe ouviriam algumas verdades. Se sentia forte, seguro e muito feliz com sua nova postura. Não temia pelo emprego, pois seu chefe ficaria boquiaberto com tudo o que ele ensaiava mentalmente e falaria daqui há alguns minutos. Um novo homem! Era o que ele via no espelho do banheiro. E neste momento forte batidas na porta o trazem a realidade. Era sua esposa... Automaticamente diz que já está saindo do banheiro e ainda maisi automaticamente pede desculpas. Tudo o que foi pensado cai ao solo. Olhando no fundo dos olhos daquela pessoa apática que ele via no espelho ele se lembra que não é a primeira vez que se desliga e pensa no que deveria fazer, não era a primeira vez que olhava no fundo dos olhos de seu reflexo. Aquilo era apenas uma fantasia. Lava seu rosto e sai do banheiro, a vida real o espera.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Estilo?

Com sua camiseta surrada do Led Zeppelin ela observava o movimento de frente ao palco do bar que frequentava a dois anos. Conhecia a grande maioria dos frequentadores. Já tinha visto a banda mais vezes do que gostaria de ter visto e não tinha a mínima vontade de dançar novamente aquela música que a banda tocava insistentemente um pouco mais rápido do que a original. Na primeira vez que ouviu a versão achou original, mas agora via que eles apenas aceleraram e o vocalista colocou umas firulas.. Nada demais.
Não se imaginava em um outro tipo de balada, só de pensar em uma rave já tinha arrepios. Ela tinha um estilo que foi fundido com anos de conhecimento musical e da "cena". Não queria jogar aquilo fora. Mas ultimamente, especialmente naquele dia, se sentia cansada. Queria algo diferente, mas seu circulo de amizades oferecia sempre mais do mesmo. Tudo previsível e calculado. As músicas, a dança, as bebidas, as drogas (não gostava, mas tolerava os amigos usando), os locais... Enfim: a sua vida. Tudo parecia estar escrito em um flyer de uma festa que aconteceu há dois anos atrás. Inicialmente viveu seu sonho e no momento estava em dúvida se não seria melhor acordar.
A camiseta. Há duas semanas tinha ido ao centro a procura de uma nova, mas a variação sobre o mesmo tema a deixou cansada. Ela já devia ter tido um modelo de cada uma das blusas com suas bandas preferidas e o fato destas bandas já não existirem mais era um ponto para a falta de novos modelos. Chegou a ir a uma loja para ver coisas com cores diferentes, modelos novos... Quando lembrou de sua mãe sugerindo uma blusa parecida com a que tinha em mãos, o sorriso em seu rosto sumiu, assim como o rosto padrão da vendedora também mudou quando ela soltou a blusa e saiu da loja sem maiores explicações. Ela não teria cara de entrar em casa com aquela blusa que foi motivo de discussão familiar. Neste momento pensou que apesar de ter apenas a mãe no mundo, não a tratava tão bem.. Lembrou de momentos de felicidade, de sua infância..
E ali estava ela, no canto do bar, lado direito do palco, em uma mesa onde além do rosto mais sério do bar, se encontravam as bolsas e demais pertences de seus amigos que pulavam de frente ao palco...

Ele não se conformava com as idéias de seu pai quando elas atrapalhavam sua vida. Era complicado aguentar os amigos chacotando sobre seu jeito de vestir, suas roupas baratas. Mas por mais que aquilo o chateasse ele concordava com o pai. Por que dar R$ 100,00 em uma camiseta se poderia comprar duas por R$ 12,00 e ainda comprar um mp3 no camelô com a diferença? seria melhor estar com a blusa com a marca da moda e sem nada no ouvido ou com a blusa branca sem marca e ouvindo suas músicas preferidas? O pai tinha razão. Não foi fácil ganhar os R$ 100,00 empacotando compras no mercado depois da aula. A camiseta não o faria ficar melhor de vida, muito pelo contrário.
As vezes era difícil entender o pai. Era mais fácil ele dar dinheiro para o filho, afinal ele estudava, era comportado.. Mas o pai insistia na idéia de que ele precisava dar valor as coisas. Era legal ver seu esforço se transformar em cifras e depois em um computador, livros, dvds... Talvez o pai estivesse certo, mas poderia facilitar.
E ali estava ele a caminho “da balada”, não era muito de sair, pois tinha tudo o que o divertia em casa, geralmente passava a noite com o pai assistindo um bom filme ou jogando xadrez. No último ano convenceu o pai a jogar video-game e ele, apesar de relutar no início, estava ficando muito bom. Eram divertidas as noites em família, os dois jogando, conversando... Mas agora ele já estava meio crescidinho e precisava sair do casulo, conhecer gente. O flyer que encontrou a caminho da escola falava de um bar onde tocavam o som “da melhor época do rock”, como seu pai sempre dizia.. Ele conhecia todas as músicas de cor de tanto ouvir os discos de seu pai. Agora poderia ver uma banda tocando ao vivo suas músicas preferidas.
Chegando na frente do bar todos olharam para ele com um certo ar de desprezo, olhares que ele conhecia muito bem, mas assim como conhecia os olhares tinha aprendido a lidar com eles. Era só não se importar e seguir em frente. Entrou e foi direto ao bar. Pediu uma cerveja e o primeiro gole do liquido foi o melhor de sua vida. Como estava gelada! A caminhada deu um sabor especial a bebida.
Depois foi direto ao palco. No primeiro acorde reconheceu a música! A melhor de todas! Mas estava difererente, mais rápida!! Esperou um pouco para ver como o vocalista se sairia.. um, dois, três e....foi! O cara era bom.. inventou umas firulas.. mas levava bem a música. Não era como a original, mas os caras mandavam bem. Não gostou tanto da versão, mas estava em um bar. Olhou a sua volta e todos com suas roupas iguais dançavam da mesma forma. Não era legal. Resolveu se soltar e dançar. Sem se importar com o mundo a sua volta dançou até não mais aguentar. Foi difícil ignorar o riso de alguns a sua volta, mas dançou toda a noite, com pequenas pausas para água e para algumas das que foram as melhores cervejas de sua vida.
Na caminhada de volta só conseguia se lembrar da moça sentada ao lado do palco. Ela foi a única diferente do bar, apesar de usar as roupas padrão. Depois de tantos olhares de reprovação, a imagem do único sorriso sincero da noite ficaria em sua mente pelo resto de sua vida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Leia rápido!

Pressa. Palavra que define bem nossas vidas, nosso tempo, aliás, a falta de tempo que pensamos ter. E com passos rápidos andamos pela rua, sem olhar para os lados,pensando no que vamos fazer ao chegar a nosso destino (era um conhecido ali atrás? preciso falar com ele, mas agora não tenho tempo) e passo após passo seguimos em frente, a caminho de nosso tão esperado destino que nada mais é do que um passo para o que precisamos fazer amanhã. Sempre em frente, no andar dos ponteiros e se possível mais rápido que eles. Engolimos o alimento que a cada dia precisa de mais condimento para que em sua rápida passagem por nossa boca possamos sentir algo sútil do que pode ser o sabor artificial que lembra... Lembra o que mesmo? Ah!! Deixa pra lá, não temos tempo para lembrar de coisas fúteis, afinal estamos quase lá.Pronto! Chegamos! Este é o final? Para isto que corremos?? Que merda...