terça-feira, 26 de agosto de 2008

estórias

Sem saber da procedência do senhor sentado ao lado da porta de entrada de seu trabalho ele passa praticamente por cima do homem com cara de sofrimento. Afinal ele tem mais o que fazer... Por alguns minutos tentou fazer um storyboard em sua mente do que pode ter acontecido com o tal homem para estar em situação tão chata... Em todas as hipóteses montadas em sua cabeça a palavra de ordem era desistência. Resumindo era um homem fraco, merecia a situação. Passou seu cartão e começou sua rotina. Afinal tinha muito o que fazer para perder tempo com um vagabundo.
Do outro lado da cidade o menino espera um arquivo para finalizar uma revista, estava ansioso, pois era seu primeiro trabalho. Ainda lembrava do “cara da agência” sendo chato com ele no dia anterior. Ele ouvira que não sabia nada de gráfica, e teve que ouvir calado, pois é um grande cliente e ele realmente sabia pouco. Mas ele estava empenhado no trabalho.
Em outro estado uma mulher caminhava para o trabalho como peito apertado. Há mais de 8 meses o esposo havia sumido. Ele não soube encarar a crise. Mas foi um ano complicado. A falência, a morte do filho e o incidente com o seu “melhor amigo” e ela... Só de pensar no assunto ela sentia uma certa tontura. Nunca conseguiu explicar que nada acontecera, mas a ele ficou cego ao ver os dois se encontrando no meio da tarde. Ela nunca conseguiu explicar que casa era aquela onde ele os viu entrando no meio da tarde. Onde estaria o seu marido? Estaria bem? com este pensamento ela chega a casa onde agora trabalhava como empregada doméstica.
Sentado em sua mesa ele só pensa no trabalho do grande cliente. Era raro aquela empresa enviar um trabalho para eles. Só mandava impressos simples, não acreditavam na qualidade de sua gráfica. E logo agora que estava com um funcionário novo!! O menino é esforçado, e ele ensinou tudo o que sabia para ele, mas segundo o cliente tinha falado no dia anterior, os softwares que sua gráfica usavam não eram adequados.O cliente falou mal do pobre menino e praticamente pediu a cabeça dele se o trabalho não ficasse de seu agrado. Como ele mandaria embora o garoto? Mas o cliente é muito importante..
Andou o dia todo e não aguentou o cansaço. Sentou nos degraus de entrada de uma empresa, mas aparentemente esta estava fechada.. sem movimento... Não sabia mais o que fazer, por algum tempo procurou emprego em diversas empresas, depois de alguns meses seu dinheiro acabou, foi levando a vida com alguns bicos até chegar aquele dia. Por falta de pagamento foi despejado do hotel de quinta onde estava vivendo. Depois de uma noite me um albergue, onde levou uma surra no meio da noite ao tentar defender seu patrimônio, que hoje se resumia em uma mala, ele resolveu sair a procura de algo. Mas sua aparência estava péssima. Ao pensar isto um rapaz quase passa por cima de sua cabeça ao entrar na empresa. Pelo seu olhar de desprezo ele deve ter considerado que ele é um indigente. Ele pensa que este é o exato momento de sua chegada ao fundo do poço. Mas se recorda de um outro momento há alguns meses, quando no meio de uma tarde via a cena.. “Melhor esquecer!!!” é o grito que ecoa em sua mente.
Se passam alguns anos e ele está trabalhando em uma nova agência. A proposta foi muito boa e ele realmente merecia. Agora estava desfrutando os melhores anos de sua vida. Não sabia como tinha ficado tanto tempo em meio a gente tão estúpida. Agora ele estava no paraíso. Pouco trabalho, clientes famosos... Era seu terceiro mês no novo trabalho, apesar de alguns contra-tempos ele estava gostando. Seu chefe não era lá muito inteligente a seu ponto de vista. Em pouco tempo aquele cargo seria dele. Aliás, seus amigos de trabalho também não eram lá muito bons. Ele seria o grande nome desta empresa em pouco tempo! O telefone toca e seu chefe o chama, o que será que esta anta quer? Ele o chama a sua sala, lá entrega alguns papéis e explica que venceu seu tempo de experiência, que seu trabalho era bom, mas infelizmente não se encaixou no perfil da empresa.
E lá estava ele sentado na sala de espera de um importante cliente. Quem o viu há alguns anos atrás, nunca imaginaria que o homem sentado em uma escada, totalmente sem rumo, conseguiria dar a volta por cima. A humilhação daquele dia o deu forças. Conseguiu se reerguer do nada. O contato com o fundo do poço lhe levou a conhecer pessoas de diferentes formações e com diferentes histórias. A idéia de montar uma empresa com as pessoas que estavam ali no fundo do poço com ele era meio utópica, mas quem sabe. E ali estavam! São recebidos por um jovem rapaz, muito gentil que no futuro ele soube que tinha começado em uma pequena gráfica e hoje era quem comandava o departamento de marketing daquela empresa. Ele iria lhe apresentar o consultor administrativo. Ao entrar na sala seu coração dispara, era seu “ex melhor amigo” a vontade era de matar, gritar, mas ele conseguiu ser profissional e levou a reunião até o final, fechando o contrato. Quando todos se levantaram o consultor pede para lhe falar em particular, ele apesar de não gostar da idéia fica. Horas de conversa depois dos velhos amigos se abraçam aos prantos.
Depois de apresentar o prestador de serviços ao consultor o jovem diretor de marketing caminha para o departamento de recursos humanos. Iria entrevistar alguns candidatos. Por alguns momentos pensou sobre a cara de espanto que o consultor e o prestador de serviço apresentaram ao se encontrar, mas quando foi reparar melhor eles estavam com feições sérias típicas destes “tiozinhos” de negócios. Ah.. eles se entendem! Seria interessante para a empresa utilizar o material reciclado que aquela empresa estava oferecendo! O trabalho social deles era muito bom e seria melhor ainda se associado a imagem da empresa onde ele trabalha. Ao abrir a porta o primeiro candidato que vê é o diretor de arte que o fez perder seu primeiro emprego.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nada de novo

Sem nada novo a dizer volto a cena, não consigo ficar calado o que as vezes é uma pena.
Quem fala demais dá bom dia a cavalo e quem dá idéia a mané manda tudo pro ralo.
Deixa quieto, muda o rumo da prosa, faltou assunto ofereça um rosa
Não proponho revolução, é pedir demais pra uma canção
Nada de novo eu tenho a dizer, mas precisava disto para viver
É como o ar nos meus pulmões se renovando de frente pro mar
Nada de novo...
Nada...
No segundo ato volto de fato, sem holofotes dou meu recado
Nada de novo mas tô renovado. caminho na rua sorriso estampado.
Desço a ladeira, dropo sem medo, vento na cara, o sorriso não para.
Neste momento eu sei quem eu sou. olha pra frente, é pra lá que eu vou.
O que deixo pra trás são marcas no asfalto lembrando a todos que vim lá do alto
E é pra lá que volto a cada sessão.. esta sim é minha missão: recomeçar...
A cada volta chegamos ao ponto de partida...
No fim de cada ladeira há sempre uma subida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Aos melhores momentos

Mais de uma vez ouvi a analogia de nossa vida com uma viagem de trem, onde escolhemos em que vagão viajar, ao lado de quem sentar, que pessoas descem em estações pelo caminho e outras sobem ao trem... Me agrada tal descrição. Não sei explicar o motivo que me fez lembrar disto neste momento, mas de repente me vieram a mente alguns vagões onde eu escolhi viajar, alguns que saltei antes da estação planejada e outros em que entrei de olhos vendados. O que posso falar de cada vagão é que consegui algo bom de cada um. Por mais que a memória possa me trazer uma primeira imagem negativa da fase/vagão se paro para analisar, algo bom surge.
Neste momento me recordo o que me fez lembrar a “analogia ferroviária”, foi uma breve conversa que tive no trabalho que despertou este "espírito de escritor de auto-ajuda" (risos). Mas o resumo da breve troca de idéias e do ainda mais breve texto que você lê neste momento é: estamos preparados para as coisas boas?

Afinal: "Quando o melhor momento chegar, vai entrar sem bater e chão vai tremer alto como um trovão..." - Nação Zumbi

Escrito ao som de Bossa Nostra - Nação Zumbi

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

o tempo

Era apenas um rapaz simples e gostava disto. Não precisava de muito para viver, bastava um pouco de dinheiro para ter o luxo de sair nos finais de semana e nem precisava de muito dinheiro para satisfazer suas vontades. Sair com os amigos e terminar a noite em uma boa conversa fazia com que um sorriso surgisse no caminho de volta para casa. Era feliz na medida do possível, o que o levava a ser uma pessoa privilegiada, pois não estava a procura da felicidade utópica que muitos procuram, onde não há espaço para dor, tristeza, desilusão, erros.. estas coisas que ele encarava como parte do todo. E com este sorriso estampado na cara passou alguns anos. Até a cara metade encontrou. Mas o tempo quase retirou o sorriso de seu cotidiano em um certo momento. Com o passar do tempo as necessidades mudaram, o custos aumentaram e ele começou a encarar o mundo de forma diferente, ainda sorria, mas estava tudo mudado. O tempo antes reservado ao sorriso foi sendo tomado por pensamentos “sérios”, o espírito sorridente ainda vivia ali, mas passava a maior parte do tempo escondido. Afinal as cifras precisavam chegar, o mundo tem que girar. No início o labor era prazeroso, o sorriso convivia com ele, mas o tempo mudou tudo, talvez nem tenha sido o tempo, mas tudo mudou. O trabalho antes em função das coisas simples passou a ser em função das cifras, pois elas poderiam, no seu novo modo de ver o mundo, comprar os momentos destinados ao sorriso. Mas um dia olhou para o lado da estrada onde estava viu pessoas sorrindo, lá estavam deitados em um gramado com os sorrisos no rosto. Pensou em converter o momento em cifras e não soube fazer a conta. Passou dias a pensar e enfim o tempo lhe mostrou que no fundo ele ainda era simples. Viu que não precisava de muito para viver e na contra-mão passou a andar contrariando a todos a sua volta. E em uma noite, voltando para casa depois de um papo animado com os amigos olhou pelo espelho do carro e constatou uma só coisa: ele é um homem simples.