terça-feira, 20 de maio de 2008

O vocalista

Naquele momento ele estava realizando o que sonhou por algum tempo, enfim estava em seu lugar de direito, o palco era seu! Não importa se lhe chamaram para um backing vocal no meio do show e ele acabou ficando para cantar a próxima, não importa se pouca gente conhecia a música. Ele estava ali para apresentar o que é bom para os mortais. A sua vida seria dividida entre antes e depois deste dia. Todos o respeitarão a partir de agora, verão que ele tem o dom. Antes disto só seus pais tiveram o prazer de ouví-lo durante os longos banhos.
Em sua frente estavam os 20 e poucos sortudos para assitir este fato histórico, o início da sua carreira artística. E começa o som.. batera chama na baqueta. em dois tempos a guitarra entra aguda... Dois tempos depois vem a linha de baixo.. Agora era sua vez. mentalmente ele conta: “1, 2, 3 e vai!!”

Uma leve falha em sua voz quase coloca tudo abaixo, mas ele conseguiu, está cantando! Segurando a onda para não desafinar ele segue bem. Consegue ver um ou dois sorrisos na platéia, a menina de blusa vermelha até esboça uma dança. Ele não se sente muito seguro, mas vai bem.

Já era! primeira estrofe terminou! Meio sem graça ele balança o corpo acompanhando a banda.. Já está se soltando, os caras sorriem, o vocalista que está sentado no canto do palco faz um sinal de positivo para ele. Vem a segunda parte.. Ele entra bem! Se soltou um pouco mais, afinal ali é seu lugar! Arrisca uns tons acima e desafina de leve, mas ninguém se importa.. as pessoas estão gostando!

Chega o refrão e ele está em sua melhor forma!! Na segunda frase ele arrisca tudo e grita: “todo mundo comigo!!!!”. Ao encarar a platéia com o microfone virado para eles, ele sente todos os olhares. O carinha com a cerveja na mão que estava do lado direito do palco conversando com uma garota pára espantado e olha diretamente para ele, assim como a garota. A menina de blusa vermelha pára de dançar e em meio a risinhos comenta algo no ouvido de sua amiga que começa a gargalhar. Em todos os cantos ele vê pessoas rindo.

Volta o microfone para seu lado e canta o resto do refrão com muita cerimônia, totalmente sem jeito. E assim vai até o final da música, sem coragem de encarar a sua platéia de frente. Agradece a banda que o encara com um certo ar de desaprovação e riso, desce do palco entre alguns tapinhas nas costas e risos e se dirige direto ao bar para se esconder atrás de um copo, em sua mente apenas uma frase ecoa:

Todo mundo comigo... todo mundo comigo... todo mundo comigo...

sábado, 17 de maio de 2008

mano negra

Hoje por alguns minutos tive as mãos de minha avó entre as minhas.. observei calmamente os desenhos que o tempo ali fez. E vi uma beleza indescritível naquelas mãos. Calado pude ler toda a história de uma vida ali, lembrei das coisas que minha mãe contava de sua infância, como ela foi guerreira ao criar suas 3 filhas depois do falecimento de meu avô. apesar de todo encantamento que senti não resolvi escrever para exaltar a história de vida de Dona Bela, apesar da vontade de sair gritando minha admiração a todos que passam, mas gostaria de lembrar sobre todas as histórias de vida que nos cercam e deixamos passar sem dar muita atenção. Aos velhos que vivem em asilos, aos que por um motivo ou por outro acabaram nas ruas, aos que vivem em suas casas com todo o conforto possível mas sem nenhum contato com seus filhos. A eles dedico este texto.
Sentimental? Talvez... Mas posso dizer que a cada dia que passa dou mais valor a esta “falida” instituição chamada família, por mais que alguns gritem que não é algo sólido, por mais que o tempo a cada dia esteja mais escasso para estarmos perto dos nossos. Deixo pública minha admiração aos meus.
Perfeitos? Não. Elogio generalizado? Não.
Sei que existem caso e casos, mas, salvo exceções, creio que é uma instituição para se confiar. Basta ter um pouco de boa vontade e acima de tudo sinceridade para fazer “a coisa” andar. O que falta em tudo para dar certo sempre é isto: sinceridade.

Mas sinceramente, acho que pouca gente vai me entender.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

conto adolescente

Sempre tentando fugir do estereótipo do jovem bobo, ali estava ele parado sem saber o que falar. Nada inteligente vinha a mente. Ele estava há alguns segundos olhando fixamente para os olhos da menina sem saber o que fazer. Desviar o olhar? Falar alguma coisa?

Antes daquele momento ele já tinha visto esta garota, mas foi ali que realmente notou quem era ela.. Se ele não fosse um cara tão cético e convicto de suas crenças ele poderia falar que naquele exato momento os viu em uma bela cena no futuro, sorrrindo e caminhando de mãos dadas. Mas não! Não viu isto! Uma afirmação desta ia cair naquela conversinha romântica de “amor a primeira vista”, o que tecnicamente seria mentira, pois já a tinha visto antes.

Mas ainda continuava olhando... por sorte não estavam tão próximos. Ela lá longe na margem do rio e ele ali em uma guerra de lama com seus amigos. Ele era tão seguro de si que achava a brincadeira infantil uma coisa muito madura, não se importava em fazer coisas consideradas idiotas pela maioria dos jovens de sua idade contanto que fosse algo divertido. E tinha encontrado sua turma, todos ali cobertos de lama e ele ali parado sem saber o que fazer em meio a algazarra.

Foi neste momento que um punhado de lama o atingiu, tirando ele deste momento constrangedor. a salvação em forma de barro o trouxe de volta a realidade e ele voltou a brincar com seus amigos. Neste momento ela deu um trago em seu cigarro, olhou para o lado e retornou a conversa com um de seus amigos.

E a vida continuou.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O fim do silêncio?

E então, ali de seu canto.. ele gritou.
Esta vontade surgiu de repente, assim do nada, como boa parte das vontades deixadas de lado surgem. Mas desta vez ele agiu: botou a boca no mundo.
Gritou desesperadamente. Queria chamar a atenção do mundo para seu urro gutural, que poeticamente mostraria a todos sua indignação perante a tudo de errado a sua volta. Assim pensou antes, durante e segundos após seu grito/manifesto.
Mas o grito durou muito durante os 5 segundos em que ele esteve com a boca escancarada e soltando todo o ar de seus pulmões. Durou o tempo exato do “vídeo”, com cenas que o incomodavam, que passou por sua mente enquanto seus olhos estavam cerrados. Durou o tempo que ele achou necessário para que o mundo olhasse para seu canto. para que todos entendessem sua indgnação. 5 segundos.
Ao abrir os olhos... ali de seu canto, pode ver que algumas pessoas que estavam próximas, realmente olharam para ele. Mas neste momento todos voltaram a seguir seus caminhos... levando na memória o “louco que gritou”.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

motivos??

Escrever.
Uma terapia? Uma fixação? Exposição exagerada? Loucura?
Sinceramente ainda não consigo descrever o motivo da existência deste blog, acho que o fato de me comunicar, seja lá com quem for, é o que me leva a “postar” textos...
Um tanto frio, confesso, mas é alo bem interessante saber que em algum momento este agrupamento, as vezes não muito lógico, de sinais gráficos vai entrar na cabeça de alguém e fazer esta pessoa pensar em algo me satisfaz. Certo que pode pensar coisas erradas a respeito do autor, caso não consiga organizar bem as letras, palavras e parágrafos... mas o desafio me agrada.
Pronto! Se chegou a este ponto consegui informar alguma coisa. Não que esta informação vá mudar sua vida, mas a introdução se foi... Agora no argumento proponho um comparativo entre outra forma de comunicar, a tal comunicação visual. Seja ela corporativa ou artística, o visual é mais direto. De cara o receptor da mensagem sabe se gosta ou não do que lhe é informado. Por exemplo o desenho de um rosto.. é só bater o olho e a pessoa sabe se aquilo a agrada. A introdução é o todo.
A partir desta introdução, o receptor começa e estudar o argumento e tentar entender por que aquilo o agradou ou não. Vê o traço, os detalhes, textura, técnica.... enfim chega a conclusão.
Isto tudo em questão de segundos!
Já com o texto.. todo texto é uma mancha sobre um folha.. ou neste caso caracteres sobre uma tela.. mas o caso é que todo texto é igual a primeira vista.. Depende do designer acrescentar elementos para atrair como imagens, estilo de fonte, diagramação... mas pode-se dizer que em alguns casos isto é um tipo de enfeite para pavões. A mensagem escrita predomina. Você pode pegar um mega designer para diagramar uma revista, mas se o escriba não for coerente...
Mas para esta analogia penso no texto cru.. mensagem escrita em sua forma pura...
O visual é direto. sem muitos rodeios.. já para a escrita, precisamos chegar com cuidado.. tentar em um parágrafo mostrar ao receptor da mensagem o que está por vir, incitar... cutucar... chocar... CONQUISTAR. Convencê-lo de que os próximos minutos (ou horas.. dias..) podem trazer algo bom para esta relação comunicativa...
A comunicação escrita se torna mais complicada, pelo menos para mim, pois requer conhecimento de regras que no visual, devido a profissão, eu já consiga fazer sem muito esforço... Não que esta coisa direta do visual seja simples de se executar, que seja a forma mais simples de comunicar. Mas a escrita exige um pouco mais... Talvez por isto eu enrole tanto nos textos.

Agora chegamos a parte da conclusão e posso dizer que ambas as formas de comunicação são difíceis! comecei o texto pensando em falar que a escrita é mais complicada, exige mais.. mas no meio do caminho meus pensamentos foram para a composição artística onde muitos com a ajuda de semiótica e ciências correlatas conseguem “ler” além do que se vê de cara (introdução) e com estes conhecimentos consegue ver o desenrolar da mensagem (argumento) e chegar a mensagem final (conclusão) com uma impressão que pode ser diferente do que se teve a primeira vista. Resumindo: com o conhecimento de regras a leitura visual é tão complexa quanto a escrita... Agora você, caro receptor, pode pensar que a escrita se tornou mais direta. “É ler e pronto!”. Mas... passamos anos sentados em carteiras desconfortáveis engolindo regras de comunicação para entendermos a tal escrita.
As respostas para as dúvidas iníciais? Por que escrevo?? Fiquei ainda mais confuso! Acho que escrevo aqui para tentar aprender. E você, por que leu?
Douglas Dias (sem bibliografia de apoio... aceito sugestões)